← Voltar para a lista de posts

compras e receios

compras e receios

acho que minha maior compra até hoje foi um notebook. é um Acer Triton 300 SE. uma belíssima máquina, que às vezes parece um avião decolando - mas já se pagou algumas vezes, se pensarmos no trabalho formal e nas aulas que gravei.

no último post, comentei sobre vir de um lugar simples. pois é. sempre tivemos restrições monetárias - em bom português - sempre fomos meio fudidos de grana.

conseguimos arrumar uma brecha no horário hoje pra visitar o apartamento que estamos pensando em comprar: fomos eu, meu pai e mãe, Dyandra, meu sogro e sogra. fizemos o zaralho lá. a parte mais legal é que pude testar o isolamento acústico do blindex da varanda. tl;dr: isola mesmo!

é um pouco assustador pensar em um futuro onde o amanhã pode estar razoavelmente acertado. tipo assim: quando abri mão do meu estágio como técnico em química da Bayer, literalmente abri mão da carreira mais estável que poderia sonhar na vida. eu estava bem encaminhado pra passar o resto da minha vida lá. se desse errado, estava jogando meu futuro inteiro pelo esgoto... junto dele, estava jogando o sonho de dar certo. foi uma decisão difícil, aos 18 anos. um mês depois de eu sair, um colega saiu de licença médica (RIP, Carlos do QA. descanse em paz, onde quer que esteja). Minha ex-chefe me ligou, me oferecendo uma vaga de Assistente de Qualidade. Na época, ganharia R$4000,00 por mês. Como suporte em TI, eu ganhava uns R$1800. Recusei a vaga.

no outro post comentei sobre a vaga de suporte e quando aceitei metade do salário que ganhava (pq trabalhava pro Canadá) pra entrar numa vaga de SRE no Brasil. Se desse tudo errado ali, eu literalmente não tinha um puto guardado pra dar a volta por cima.

acho que ser pobre; ou melhor, vir de família pobre é um fardo que acima de tudo te faz pensar trinta vezes sobre todas as suas decisões. será que vale a pena arriscar o de hoje pra ganhar o de amanhã? e quando você sequer tem o de hoje?

cultivei alguns amigos nesse meio-tempo. um deles, que infelizmente quase não me comunico é o Sérgio (o vereador do devops, em todas as redes como sergdevops). em uma das viagens a "trabalho, estudo e gastação com meus webamigos" (aws summit, devopsdays, etc), estávamos tomando uma cerveja em um bar na Augusta. por algum motivo, estávamos falando sobre mão-de-vaquice com nós mesmos e como nossas Patroas se sentem quanto a isso. isso eventualmente chegou na sensação de pertencimento nos lugares.

já foram em algum restaurante que têm total capacidade de pagar ou até mesmo de pedir todo o cardápio, pagar a conta e não isso não gerar qualquer impacto na sua saúde financeira, mas olharem ao redor e não se sentirem parte daquilo?

acho que minha maior experiência disso foi no Camarada Camarão em Botafogo. eu provavelmente ganhava mais do que todo mundo ali, mas ao meu redor as crianças estavam com seus iPhones, os pais possuiam um semblante tranquilo -- mais um domingo -- e eu só conseguia pensar em "caralho, o que eu tô fazendo aqui?". como se aquele lugar fosse pra pessoas mais do que eu. não que ganhassem mais ou que fossem mais relevantes, mas fossem... mais. sabe? mais gente do que eu.

voltando ao tópico, assimilar que "tá tudo bem" é difícil pra caralho. porque nada, nunca esteve muito bem. foram 22 anos de tudo estando de Meio Merda á Oficialmente Merda. eu sei que hoje posso ser demitido e voltar pro mercado em alguns dias, maistardar semanas. e também sei que, se demorar três meses eu mal vou tocar na minha reserva, pq a reserva da reserva já daria conta.

dei essa volta toda pra falar que é assutador mandar uma proposta pra compra de apartamento. e eu acabei de fazer isso. estava sentado, comendo um salgado de mais massa que recheio (pelo amor de Deus, era só massa aquela droga) e pensando que... se tudo der errado, ainda vai estar tudo bem.

se comprar hoje e for demitido depois de amanhã - vai ser um puta bad timing, papo reto - mas vai estar tudo bem. dá tempo suficiente pra arrumar a vida, sabe?

é esquisito não vender o almoço pra comprar a janta. é esquisito saber que tá tudo bem. é de um esforço psicológico bem grande.

gosto de pensar que independente de todas as dores, de todas as dificuldades e sofrimentos, venceremos. pode ser que não seja hoje, ou amanhã... mas venceremos.

essa vitória tem sabor de duas petras 473ml e uma stela 473ml, Calgary (do Bon Iver) e domingo a noite. qualquer semelhança com a realidade é... provavelmente, real.

bernardo