musica, parte 1
descrição do audio: o autor tenta se lembrar de músicas que tocava quando tinha 16~18 anos, em um violão de nylon num lugar razoavelmente silencioso. as músicas são Pálida, do Phill Veras - um dedilhado composto por majoritariamente notas abertas e Quando bate Aquela Saudade do Rubel, composta por quatro acordes e os baixos sendo tocados entre-notas.
Eu sempre amei música. Cresci numa casa musical. Minha mãe cantava na igreja quando jovem. Todos os domingos ouvíamos (e até hoje ouvimos) sambas, pagodes e mais. Meu pai me ensinou a ouvir Belchior e Clube da Esquina. Meu irmão (quatro anos mais velho) logo comprou um violão e se apaixonou pelo instrumento.
Eventualmente, também comecei a tocar violão. Talvez pelos 14 ou 15 anos. Nunca tive muita paciência pra aprender campos harmônicos e grande parte da teoria. Gostava de tocar músicas que soavam no meu peito - e, como um jovem de 15 anos, isso significava Los Hermanos... ou melhor, as músicas solo do Marcelo Camelo (e eventualmente do Amarante, também!)
Tá. Sei que vocês não gostam muito de Hermanos. E defender o Camelo em 2024 é bizarrice. Foda-se. Eu gosto. Não dá pra ser perfeito. (mas se você quiser tentar entender meu ponto, seguem algumas recomendações off-topic: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante)
Voltando ao ponto. Durante a pré-adolescência, eu fui muito fã de rap nacional - mas, pra variar, do rap mais jovem. Emicida, Projota, Rashid. Os Três Tenores. Kamau, Cabal, o Laboratório Fantasma todo. Eventualmente, lá pros 15 anos comecei a ouvir mais rock alternativo e daí veio o username @indiepagodeiro. O ano era 2015, minhas playlists eram compostas por Arctic Monkeys, The Strokes, The Kooks, Mac Demarco, Jake Bugg, Tame Impala. Teve a época mais psicodélica também. Beatles, Boogarins, Mutantes, Raul. Dei essa volta toda pra falar que eventualmente arrumei um contrabaixo. Pra ser mais detalhista, um PHX4, da Phoenix.
Tive um pouco mais de paciência com o Baixo. Aprendi walking-bass, escalas, o básico de improvisação. Acho que estava num bom caminho, curiosamente. Mas a vida decidiu ir por outro caminho e larguei o baixo e dediquei mais tempo pra estudar e trabalhar (prometo que algum dia falo da nossa falecida banda, Satélite de Bolso!)
Eu não toco nenhum violão há quatro anos e meio, mas pelo menos uns seis do meu "auge" (por auge, leia: tocava no sarau do IFRJ Nilópolis pra fazer graça pra rabo de saia). mas curiosamente, algumas tablaturas e progressão de acordes seguem na minha cabeça. Nos últimos cinco anos eu aprendi sobre uns quatrocentos assuntos diferentes, mas, curiosamente, não me esqueci de como fazer um Sol Sustenido Diminuto. Também não me esqueci de quão prazeroso é tocar I Want You Back (do Jackson Five) no baixo, ou de como Ain't No Mountain High Enough do Marvin Gaye em bons fones de ouvido te fazem sentir como se você estivesse voando.
Acho que o ponto que quero chegar (se é que tenho algum!) é que algumas coisas ficam com a gente. Eu comecei a escrever o post (e fiz a funcionalidade de som aqui no blog) quando peguei o violão e quis tocar a primeira música, Pálida, mas não lembrava de um pedaço. Queria falar sobre como sempre me considerei uma pessoa extremamente visual e a parte boa de ter sido um jovem com altíssimo nível de super-exposição na internet é que tenho cover de algumas músicas no Instagram (inclusive, me segue lá! @eumesmobernas), mas acho que percebi que eu estava errado.
Eu não sei se sou tão visual quanto imagino, mas talvez mais auditivo do que pensei. Acho que quase nenhum momento significativo se absteu de ter som na minha vida. O primeiro presente que dei pra minha primeira namoradinha foi um disco (e um cordão com a letra S, que curiosamente não era a minha inicial, nem a dela. Mas era de um sobrenome em comum!). Ainda me lembro de voltar do IFRJ no 551 em Nilópolis, sentido Guadalupe ouvindo Freaking out the Neighbourhood, em pé, próximo da porta do meio, com meu primeiro fone "Chi-Fi", o KZ ZST. Juro que algum dia falo mais sobre fone de ouvido.
Curiosamente, a Dyandra me ganhou pelo ouvido, também. Papinho de "playlist colaborativa". Meteu um Jorge Ben Jor e eu fisguei como um peixe.
Enfim. Música me transporta. Acho que podem se passar mais quatro anos e eu ainda vou lembrar como toca Crying Lightning no baixo. Ou Naive, do The Kooks (essa aí já toquei umas cinco vezes no IFRJ, heim!), na guitarra.
Por enquanto, o violão vai voltar pra case e ficar de lado, esperando a próxima vez que for dominado pela lembrança de uma época mais simples, que eu chegava em casa do estágio pensando "acho que quero gravar essa música". Quem sabe daqui a alguns anos eu não me lembre de alguma coisa nova?
bernardo